A caminhada em defesa da Serra d’Arga do próximo sábado 5 de Setembro é convocada por vizinhos desta Serra, a partir do Mosteiro de São João d’Arga às 15 horas.
No final do percurso, pelas 17 horas, haverá uma conversa em mesa redonda sobre o perigo da mineração e a consequente poluição/mercantilização da água que emana destes mesmos montes, sendo animada em torno do Centro Cultural de Dem, seguida de um convívio, respeitando os gestos de segurança relativos à pandemia do Covid-19.

Esta iniciativa parte, além da articulação com o executivo da Junta de Freguesia, de um conjunto de indivíduos de vários quadrantes políticos e sociais do Minho, determinados na luta contra a mineração do lítio e a sua industrialização em detrimento do nosso património natural e das nossas vidas.
Dem trata-se de uma freguesia claramente oposta às minas, que já albergou iniciativas contra a mega-mineração, por exemplo a reunião de 10 de Junho 2019 da qual emanaram vários grupos e acções contra esta ameaça exctractivista.

Porque falamos em ameaça extractivista? Pois não consiste somente num projecto concreto de uma ou várias minas para extrair um minério em específico, tendo a propaganda do Estado levado a fazer entender que o Lítio seria vital para a sociedade. Esta ideologia, o exctractivismo, não se resume às minas e crateras que são produzidas por maquinaria pesada e explosões, nem ao lítio e suas viaturas e dispositivos eléctricos, mas concentra-se na convicção de que, para criar mais valia para uma sociedade ou um determinado grupo de pessoas – uma economia – é imperativo extrair os elementos que compõe o seu próprio meio-ambiente.
Ou seja, o que poderemos observar em relação ao nível florestal com a plantação de monoculturas em linha, sendo o eucalipto o mais conhecido pela sua rentabilidade a curto prazo e consequências nefastas para a fauna e flora onde é implantado. Ou também a nível agrícola, com a utilização de técnicas e meios que desnutrem a terra, produzem alimentos de qualidade e nutrição medíocre, e poluem, ou simplesmente secam cursos de água – tendo como exemplo concreto na região a seca do rio Estorãos, em grande parte devido à plantação intensiva de vinhas pela Quinta da Aveleda.

Mais directamente com a própria água, vemos também esta ideia a ser implantada nas nossas formas de vida. A criação da empresa Águas do Alto Minho, corresponde exactamente à necessidade em mercantilizar este recurso – a água, ela sim, vital – em nome de uma necessidade criada de forma fictícia. Desde sempre, as levadas e poços foram escavados e desenhados pelo Homem para abastecer os seus lares e leiras – de uma forma sinergética com a Natureza e o seu curso natural.
Mas, na urgência de um modelo económico que sustente o insustentável, o Estado e seus lacaios de certas autarquias, decidem a criação de uma instituição que mercantilize este recurso. O que se pode deduzir daí, é que esta empresa iria racionar a própria água, num futuro em que a que ainda for potável escassearia.
E não, nesse cenário, não terá sido a mudança climática – mas as crateras e poeiras das minas, criadas pela avarícia destruidora de quem decide – que terão sido determinantes na destruição e pilhagem deste recurso natural. Assim como dos afloramentos geológicos terraplanados, dos nossos bosques e o resto da flora e da fauna que aqui vivem, contaminados e progressivamente extintos. E sim, as comunidades como Dem, que muito vivem e viveram desta Serra, estão incluídas nesta lista de consequências em que nunca haverá compensações ambientais negociáveis para as suas populações.

Urge sim, o repovoamento das zonas rurais e a criação de actividade agroflorestal e agrícola sustentável e em comunhão com a Natureza. Urge o fim do êxodo que nos foi imposto, para que não venham mais reclamar as nossas origens como sua propriedade, e tudo destruírem, definitivamente, para não mais voltarmos.

Urge resistir a estas ameaças, criando o que defender, para jamais ser-nos arrebatado – e isto, é responsabilidade de todas e todos, e não de um grupo ou ONG particular.
Um futuro sustentável é possível, sem a mineração e industrialização de lítio – tanto aqui, como no Barroso, em Pontevedra como na Argemela.

Não às Minas, nem aqui, nem em lado nenhum.

Sim à vida.

Todos os grupos contra a mineração e contra a AdAM estão convidados estão bem-vindos à iniciativa, para debater e dar a conhecer as suas próprias iniciativas ao largo desta longa mas ainda jovem luta.